As raras vezes que apareces
eu imagino-me doente.
A hora é branca, toda branca...
também de branco.
Há um silêncio que se enflora
de uma ternura desusada.
Talvez a chuva lá por fora...
Mas para mim não há mais nada
que a tua imagem, nessa hora,
sobre meu leito debruçada.
Palavra alguma, nem um gesto,
vem confirmar tua presença,
que simplesmente se anuncia
pela suavíssma alegria
de imaginar que estou doente.
E não me ajeitas a almofada...
E não me pôes à cabeceira
nem uma rosa nem um livro...
Mas és tão boa e verdadeira
tua presença ao pé de mim
que quando sais, misteriosa,
toda de branco,
a tua ausência dói-me tanto,
e aquela hora, de repente,
fica tão fria e tão vazia
que escusa a minha fantasia
de imaginar que estou doente.
in Cabo da Boa Esperança
Edições Ática, Lisboa-1959
sábado, 4 de abril de 2009
A ENFERMEIRA
Publicada por Margarida à(s) 03:21
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário